Um dia favorito da semana, quem não tem?

 

Tem gente que tem até mais de um, dois, três…

 

E quando a gente se depara com o título “Todos os dias, menos terça-feira”?

 

Um montão de ideias surge na hora. Uma curiosidade daquelas.

 

Não pensei duas vezes e me joguei na leitura dessa obra de Andreza Félix, com ilustrações de Faw Carvalho.

 

Já nas primeiras páginas, a gente conhece Ana, a menina que “detestava todos os dias da semana, menos terça-feira”.

 

Ela esperava ansiosamente por esse dia, contando as horas. Mas não era porque o pai ia almoçar em casa ou porque não tinha aula à tarde. Não.

 

Terça-feira era o dia de “olhar o cabelo no espelho e vê-lo pronto”.

 

Era o dia de trançar o cabelo, de deixá-lo “cheiroso e prontinho”. Era o dia da conversa, das gargalhadas, das comidas gostosas. Era dia de festa com bolo, café, de sentar-se no quintal, dia de ouvir e contar histórias.

 

Porém, chega o dia em que Dona Vitória, a mãe de Ana, adoece, e a trajetória da menina toma outro rumo.

 

Para saber o que acontece, só lendo essa linda obra...

 

Eis um livro sobre autoestima, cuidado entre mãe e filha, com linhas importantes para se pensar na nossa ancestralidade.

   

DETALHES:

 Livro: Todos os dias, menos terça-feira

Autora: Andreza Félix

Ilustradora: Faw Carvalho

Editora: MRN


Por passar um certo tempo com as obras de um artista, a gente vai sendo contaminado, ficando doente.

 

Bastou a pergunta de uma jovem estudante para que eu me desmanchasse em incertezas. A pergunta?

 

“Por que nem sempre é tempo de ler Clarice Lispector?”

 

Às vezes, as palavras apenas surgem como tinta, em cores ainda sem nome, à disposição na paleta de um pintor expressionista.

 

Leio para me despertar de sonhos intranquilos da noite imprecisa que se estende por muitas semanas.

 

Leio para voltar à superfície, frágil, mesmo deixando as raízes dos meus dilemas à mostra.

 

Leio por estar cansado de fugir. Existir dói menos que pensar. Leio para encontrar uma gota de força na rua do reencontro. 


Leio e escrevo porque preciso me reencontrar.

 

Será que com essas linhas de nuvem eu consegui responder?

 

A chegada da nova estação nos encheu de otimismo e garra. Para minha surpresa, eu estava conseguindo conciliar treino de corrida, atividades da academia e a vida de professor. A alegria proporcionada por aquela sensação era, até então, inexplicável. Nunca tinha vivido tal experiência no contexto de exercício físico.

 

Entusiasmado com os novos ventos, era hora de subir o sarrafo e avançar um pouco em direção ao Desafio. Com mais segurança, advinda dos treinos regulares, eu e minha companheira Estela nos inscrevemos na corrida do Hospital Santa Casa BH, marcada para o dia 7 de julho de 2019.

 

Na pista, com os treinos em dia e temperatura agradável, estávamos ansiosos para correr nossos primeiros 10 km. A energia, o envolvimento das pessoas, tudo naquela prova era muito distinto. Mas por quê?

 

A começar pela causa: a luta contra o câncer. A renda era destinada ao tratamento de pacientes e às obras do Instituto de Oncologia SCBH. Em razão disso, muitos participantes fantasiados de super-heróis acompanhavam crianças em cadeiras de roda, em um ritmo de festa, alegria e aventura.

 

E lá, na linha de chegada, nós tínhamos a certeza de ter concluído uma prova com sucesso. Sentimos gratidão por todos os aspectos: clima, preparação, ritmo e energia. Entregamos nosso melhor! Eis uma daquelas provas que deixou saudade.

 


 



Há personagens com quem a gente gostaria de passar um tempo. Concorda?

 

Que fosse para tomar um suco de laranja, uma xícara de chá ou café. Comer uma fatia de bolo. Quem sabe?

 

Um momento para conversar sobre as coisas simples da vida. Imagina?

 

Conhecer as manias, crenças e sonhos de cada um. O jeito que andam e trocam ideias. Entende?

 

Mais do que conversar com esses personagens, o gostoso mesmo deve ser ouvir as histórias que eles têm para contar.

 

Todas essas experiências (e outras) eu vivi lendo a obra “Jiddo”, escrita por Daniella Michellin e ilustrada por Paula Schiavon, uma publicação da editora Abacatte.

 

É impossível não ficar fascinado com a menina Lúcia e Jiddo, seu avô – um imigrante com um tantão de aventuras.

Os diálogos, as tradições, os passeios pelo bairro, a praia no final de semana e, na hora de dormir, as histórias!

 

Conforme disse a amiga Sandra Assis: “Jiddo é um livro irresistível!”

 


DETALHES:

 Livro: Jiddo

Autora: Daniella Michellin

Ilustradora: Paula Schiavon

Editora: Abacatte




 "Porque o silêncio em si é como o som dos diamantes que podem cortar tudo!” escreveu Jack Kerouac. Arrisco-me a afirmar que o porta-voz da Geração Beat, do final dos anos 1950, tinha consciência do alcance do seu timbre nas gerações futuras.

 

Primeiras constatações foram o impacto sobre a contracultura e o movimento Hippie da década seguinte. Embora seja um escritor muito conhecido, sobretudo pela publicação da obra "On the Road" (Pé na Estrada, 1957), que ainda não li, escolhi ficar apenas com a frase inicial. Em alguns momentos, uma frase basta, em outros, uma palavra.

 

Se possível, releia-a mais uma vez, antes de seguir. O mundo contemporâneo não tem lidado muito bem com os tempos de silêncio. Em certos contextos, quaisquer segundos sem som representam uma batalha.

 

A impressão é de que fazer silêncio, calar-se diante daquilo que a gente não sabe, não conhece, silenciar-se para ouvir melhor, tem sido cada vez mais difícil.

 

Parece-me que só vale o silêncio dos outros, a recusa, o afastamento. Cansei dos gritos das redes na artificialidade das telas. Cada vez mais venho apreciando o silêncio dos encontros e a paz das descobertas.


Nesse templo, apreciar os sons do silêncio pode nos levar para outras terras dessa comparação: som dos diamantes/silêncio. E bendito seja o livreiro Paulo Fernandes que, na manhã de domingo, nos trouxe Jack Kerouac!

 

A partir dessa citação, nossa! Uma série de representações do silêncio foram pousando nas páginas azuis da minha rotina. Porque além do poder de cortar que nem diamante, o silêncio tem peso.

 

Porque há o silêncio que nos derruba e o que nos levanta, o da poeira e o da lama. Não sei por que, mas sempre imaginei a eternidade como uma das dimensões do silêncio. Tá vendo aí, Paulo? Olha só pra onde a gente está indo...

 

E por fim, ou o início de um sim para as singularidades do silêncio – contrariando – quero que fique com uma cena: o estouro de uma bolha de sabão diante das asas de um beija-flor.


... farelos por aí ... 

 

 

A recuperação do joelho e os treinos regulares na academia foram importantes para pensar, pelo menos, o primeiro semestre do ano a que me propus a vencer desafio dos 18 km – Volta Internacional da Pampulha.


Com treinos regulares, nada de muitas exigências. Isso porque eu não seria louco de ficar brincando com o joelho. Companheira Estela avisou que teria uma prova no final de março, mais precisamente no dina 30/03/2019. “Bora lá!” Praticamente o mesmo percurso da estreia, porém a corrida de Sant Patrick’S tinha um diferencial, era noturna. Quase no mesmo ritmo, conseguimos correr os 05 km.


Não sei se foi benção do santo, mas na manhã seguinte, comecei a sonhar com outras distâncias. Imediatamente fiz contato com a Estela a respeito das próximas provas. Na academia, os professores deram o maior apoio, inclusive, reforçando a importância da regularidade.


De 5 para 8, em menos de 90 dias? Guardadas as devidas proporções de juízo, hoje reconheço que não devia ter ido tão rápido assim; porém é isso que você deve estar imaginando. No dia 19/05/2019, eu e Estela estreamos nos 08 km no Corrida Santander.  Por mais que fosse um percurso plano, não foi uma prova assim tão simples. Faltou preparo, não em relação à academia, mas outro de que trataremos, ao longo da jornada.


O que nos aguardava na próxima estação?  


 

Férias com a família, de molho, sem poder correr foi moleza não. Sempre nesses contextos que surgem as melhores oportunidades, a exemplo da oportunidade de viajar com a família para a cidade de Paraty, no Rio de Janeiro. E só para irritar, de vez em quando, o convite de um ou outro hóspede:


– Bora para uma corridinha leve na beira da praia?


– Você vai devagarinho, já deve dar conta. Bora?


Bora que nada. Teve momento que a cabeça fervilhou de pensamentos que jogaram na areia: será que vou ter que adiar o desafio? e se eu não conseguir correr nunca mais? será que vou ter que fazer sessões de fisioterapia?


O jeito era seguir em frente, no tempo do abençoado. Assim que voltamos da viagem, retornei à academia com aqueles quilinhos a mais.


– Fique tranquilo, logo, logo, você estará bem. Só vamos ter que mudar um pouco sua ficha e fazer alguns ajustes.


Não sei se é assim com você, mas quando machuco, no tombo, fico mais pensativo e na medida do possível, sinto que a concentração aumenta. Era preciso recuperar porque dentro de alguns dias eu estaria de volta à sala de aula, na maior parte do tempo, trabalhando em pé, e o joelho...


Curiosamente, mesmo com a ausência da dor, com o tempo fui ficando inseguro até para caminhar mais rápido na esteira. Não conseguia entender, mas ficava cheio de “larga e me deixa” para acelerar o passo. E o professor lá, depois de uma série específica de exercícios: “Vai lá, moço, você vai dar conta. Já tá recuperado”.


Depois de duas semanas, numa segunda-feira de Carnaval, subi para a Cidade de Minas e lá fui, depois de caminhar por um tempo, resolvi correr de leve. Sem pressa e hora para acabar, fui repetindo até que conseguir completar 01 volta sem ter que parar.  


Ufa! Eu estava com o joelho curado! Ao término do treino, retirei a camisa no calor de fevereiro, sentando-me debaixo de uma árvore. “Muito obrigado, Senhor! Estou de volta!”

 

 




Os vencedores sempre encontram o endereço com a maior precisão do mundo. Falar que se trata de um bairro de divisa não cola mais.

 

Em uns boletos, consta-se que sou morador do Conjunto Carajás; em outras contas, a residência está localizada no bairro Pedra Azul.

 

De uns tempos pra cá e com a permanência do CEP, deixei de lado essas fronteiras, aceitando como veredicto o segundo. Pedra Azul tem mais sustância para a vadiagem, para aqueles que gostam de bater pernas por aí. Antes de sentar-se para escrever esta migalha, eu estava vadiando por aí.

 

Aqui as ruas têm nome de pedras e águas. Tenho a magia de morar entre a Granito e a Safira, acima das Águas Marinhas. Para se ter uma noção, a mercearia mais antiga do bairro se encontra nas Águas Formosas. São nomes interessantes!  

  

A principal referência para quem vem de longe é a Cidade de Minas, rua mais larga da região. Lá tem posto de gasolina, uma renca de botecos e algumas hamburguerias. Com seus 1.300 metros quase planos, atua também como pista de caminhada e corrida.

  

 Ao contrário dessa relativa extensão, minha casa fica em uma rua que compõe apenas um quarteirão, quase uns 300 metros e olhe lá... se dá isso. Embora seja classificada como preciosa, brilho metálico, a coitada é sempre confundida com outra pedra, a pirita. O nome da nossa?  

 

            Marcassita. Uma pedra leve, frágil, além de possuir uma estrutura cristalina diferente da tal pirita. Um antigo morador me explicou que marcassita é um sulfeto de ferro. Com fotos no celular e lembranças das lições de Química (FeS2), mostrou algumas imagens da pedra que dá nome a nossa rua.  

 

            Ao ir atrás de mais mistérios da tal pedra, descobri que a marcassita também é conhecida por seu visual vintage; possui capacidade de adicionar um toque elegante e sofisticado a joias.

 

Longe de ser um ourives, uma coisa posso garantir: nossa rua é uma joia rara! Desde que aqui chegamos, há uns 17 anos, essa rua possui um brilho para cada estação. Quem foi embora, ainda sente saudade.

 

Não se sabe se tem a ver com a atmosfera das cidades do interior. Ora parece com as rotinas de uma vila, ora fica a impressão de que todos os moradores se conhecem intimamente:  

 

– Pode deixar sua neta brincando aqui com minha filha, enquanto o senhor vai à farmácia.

 

– Vai chegar uma encomenda aí para mim, posso pedir para entregar na sua casa?

 

Seu Geovane caminha com a esposa antes de levar as gaiolas de canarinho para fora. Seu Lopez com as três lindas netas aguarda o motoqueiro com a broa de fubá quentinha para o café da manhã. Dona Rosa rega as plantas do passeio, sorrindo-nos com um bom dia. O vidraceiro brinca com seu cão caramelo levado, no fim da tarde. O frentista que, nos finais de semana se veste de Homem-Aranha para vender pipas na Cidade de Minas. A dona Carolina que prepara um lanche especial para os rapazes da coleta, aos sábados. Seu Neco fez três casinhas para os cachorros da rua, ainda por cima dá comida, banho, vacina e passeio das 17h.  

 

Pedra no nome, brilho nas memórias, cor dos encontros, brinde da partilha, Rua Marcassita.  


    ... farelos por aí ...

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