Chester, salada e os acompanhamentos. Acho que tenho tudo que preciso. Os doces ventos da cidade tecem o porcelanato singelo que é essa Lua cheia.

O orvalho crescente transcreve lindas canções nos carros dessa mundana área comercial.

 

Enfim, cheguei em casa; minha áurea transmitia cor azul ciano, como se nada pudesse me atrapalhar.

 

O som da chama do meu fogão parece dançar com minha alma, em um dueto de balé. Começa a chover. Ó doce chuva, que hidrata os grisalhos cabelos da minha avó, gotas que percorrem o casaco do meu precavido tio e criam poças para meus pequenos primos pularem. Parece até uma canção.

 

Seria eu um bardo? Enfim, todos à mesa. Começo a fatiar a alface, que desliza suavemente pela lâmina da minha faca; alface guerreiro, passou a participar na dança do meu espírito.

 

Chester cozido, tão corado quanto o Sol ao se despedir dos céus, dando espaço para a crua Lua. Tudo posto à mesa, hora de degustar a comida ao comando do luar profano daquela noite. Tudo à perfeição, minha família clama por um bis, assim como eu clamo para que meu espírito encontre a Lua. 

Texto: José Massucato

Crédito da imagem:

https://fotospublicas.com/wp-content/uploads/2016/10/Superlua-no-ceu-de-Sao-Paulo-Brasil-foto-Paulo-Pinto-Fotos-Publicas201409080001.jpg


Doce e amarga tarde de domingo em que o sol se alastra como uma mancha, acidentalmente, deixada no céu, por um pintor desatento e ansioso para finalizar sua obra prima. 


A maçã pôtrida em decomposição no cesto de frutas se assemelha tanto a esta tarde de domingo, que se esvaieia com o tempo como o envelhecido e desgastado fruto proibido, consumido por seres irracionalmente pensantes que anseiam viver. 


As leis naturais não os permitem perceber que para essa magia acontecer devem consumir lentamente a vida de outro ser. Sentiriam pena dela se  entendessem que estão comendo-a viva?? 


Quanta humilhação, pobre pálida maçã. A casca escurecida do fruto, delicadamente tecida pelos putrefantes microrganismos, simultaneamente à noite escura que se levanta sem pedir licença, ou sequer nobre permissão, para o Rei Sol. 


Não há divisão, ou dualidade, somente um único ecossistema.


Autora: Yasmim Oliveira


 
– O mundo vai acabar daqui a pouquinho, cê vai ver e ouvir.

– Vamos dormir, criatura. Uma chuva gostosa dessas e cê vem me acordar com o fim do mundo?

– Antes dessa chuva gostosinha, rolou um vendaval dos diabos que parecia o anúncio do próximo dilúvio.

– Ah, cê tá vendo muita televisão. Vamos dormir?

– Estou pensando como evitar o fim do mundo e isso a gente faz acordado, não?

– Então... tá, boa noite!

– Ela... vai ser assim ... ela vai mexer na cama e encontrar o Botas, vai fazer carinho na barriga dele. O Botas? Cê nem presta atenção nessas coisas, né? Botas é aquele macaquinho de pelúcia, que tá lá do lado do travesseiro dela. Quando abrir os olhos e não perceber que seu novo companheiro não está lá, pronto!

– ?

– O que aconteceu? Ele simplesmente se esborrachou no chão e se espatifou todinho.

– NÃO! É verdade isso? O que a gente comprou na última tarde?

– Ó, pensei que já estivesse dormindo. Não estava querendo apreciar a “chuvinha gostosa”?

– O mundo vai ficar pequeno. Ela vai gritar e acordar os vizinhos do prédio inteiro. Minha nossa! Como aconteceu?

– O vento foi muito forte. Nem com aquela barriga saliente e o peso do saco de presentes, o velho conseguiu enfrentar o vento dessa noite.

– Meus Deus! E agora?

– Vamos ter que bolar um plano antes da nossa filha acordar. Vamos pra perto da cama dela.

– Assim, talvez, a gente diga: “Filha, sabe aquele Papai Noel bonitinho que você ganhou ontem e estava dentro daquela bola de vidro transparente? Bem, fofinha, nessa noite, ele...

Lá do quarto:

– CADÊ MEU PAPAI NOEL?

 

Ilustração: Marci N.

 

Caro D.,

Ontem não escrevi nada para ser postado aqui no blog. Acabei me engarnachando num artigo sobre especialistas da área de Educação, menino, que só Deus vendo, viu?

Ah, quando vou publicar esse texto de ontem? Será na hora certa. O título provisório do texto é Café amargo com os especialistas. Nele questiono muitas propostas, iniciativas. Na verdade, só entre a gente aqui: há muito tempo eu estava com vontade de disparar aquelas reflexões.   

Esperei por mais sete anos um ilustrador que topasse ser meu parceiro nas atividades aqui do blog.  Claro que nunca procurei, pois achava que esse tipo de parceria deveria surgir naturalmente. Assim está rolando.

Não adianta forçar nada. Parceria precisa rimar com sintonia. É preciso surgir afinidade das ideias, reciprocidade compreende?

Ficaria aqui horas aqui tratando desse assunto, mas não posso, pois atividades escolares estão me aguardando ansiosamente.

Um forte abraço e até breve.

... farelos por aí ...



Venho com novidade! Estou muito contente porque a partir de agora minhas migalhas serão ilustradas! Isso mesmo: todas as minhas crônicas de quinta-feira contarão com os traços da artista Marci N.!

Marci N. é paulistana, mora em Minas Gerais há uns 20 anos. Ela desenha desde criança. Na adolescência já fazia ilustrações por encomenda. Estudou arte e design na PANAMERICANA. É formada em Jornalismo e sempre procurou conciliar a arte com as atividades que desenvolve. Ao longo da pandemia, vem criando lindas aquarelas, como esta que está ilustrando este post. 

Para marcar o início da nossa parceria, Marci N. ilustrou a crônica “Uma quinta estação” do dia 03 de dezembro. Caso queira conferir o trabalho da artista e a migalha deste que vos escreve, segue o link:

http://www.alfredoescritor.com.br/2020/12/uma-quinta-estacao.html

Seja-bem vinda, parceira!

Abraços e

... farelos por aí ...



Eu até estava apreciando a ideia de deixar o cabelo crescer. A Menina do Baú Vermelho estava festiva com a ideia. Claro que meu cabelo nunca terá aqueles os cachos cheios de brilho. Ela puxou as madeixas, a cor dos olhos, o jeito da mãe (Graças a Deus por isso).


Meu cabelo já foi de tudo nessa vida. Ainda criança, com o rosto carregado daquelas pintinhas miúdas, meu cabelo era da cor de ferrugem. Chamavam-me de russo como consolo. Depois que fui entender a diferença entre russo e ruço. Os primos e amigos dos tempos do primário foram bastante generosos. Meu cabelo era encardido.


 Com o tempo ele ficou castanho, depois atingiu um tom quase preto. Um tom caminhando para o escuro. Isso durou pouco também, pois antes dos vinte anos, uns fios brancos vieram para morar de vez na minha cabeça. E aqui se multiplicaram de forma assustadora. Como consolo do cunhado, sempre ouço: “Pelo menos você ainda tem cabelo”, uma gargalhada e, na sequência, ele alisa com orgulho parte da careca.


Já pintei meu cabelo de amarelo, na empolgação de um Carnaval dos anos 90. Tive a honra de zerá-lo, quando passei no vestibular, lá no início do século (Acho que nem existe isso mais de raspar a cabeça) Fui de uma ponta à outra.


Mais recentemente, no contexto da pandemia, cheguei a propor que só cortaria o cabelo com o retorno das aulas presenciais, ou com a descoberta da vacina. Assim, variei a relação com esses fios, ao longo desses anos que brotaram em 2020. A experiência capilar chegou ao fim.


 Bem, mas não acabou a esperança na descoberta oficial da vacina para a Covid-19. O desejo de retorno às aulas presenciais em 2021 está cada dia mais vivo, cheio de cores.


 Assim, em um exercício de confiança, fé, esperança, quero lhe fazer um convite: que tal se a gente pudesse cultivar uma quinta estação? Sim, aqui, entre a primavera e o verão, e se criássemos essa estação?  


Uma estação que refletisse as cores de todas as outras, que juntasse todos os fios para (reconstruir) os laços familiares que se perderam, romperam ao longo desses anos polares. Uma estação que venha renovar nossa paciência para com o outro, que nos permita ouvir, antes de julgar, compreender, antes de atacar, agredir com ofensas. A sincera estação da mesa, da roda de conversas, dos sorrisos e da liberdade para falar das coisas boas desse mundo, dessa vida.


 Para entrar nessa estação, já vou cortar o cabelo, mudar o visual. Bora?!


 Nas palavras do grande Vander Lee, que Deus o tenha em seus acordes e letras:

 É hora de cuidar dos nossos jardins!

 Abs,   

 

... farelos de uma nova estação por aí ...

   



Há tempos eu não sentia o doce da primavera como o desse novembro que se vai nessa segunda-feira.

Com Deus, nosso Senhor, vamos todos receber o dezembro com a esperança de que os nossos pratos sejam menos atravessados por desespero na hora das refeições.

Que a gente possa receber as manhãs, ao canto de tantas aves que eu pensava não existir mais na nossa quebrada: o bulício dos pardais em todas as esquinas, a festa das maritacas que seguem em direção da Lagoa da Pampulha e, claro, as andorinhas que fazem fila no fio à espera da quebra do vento.

Enquanto aqui escrevo, porque é o dia da semana que mais me atrai, muitas ideias vão ganhando forma a cada linha. Essa é uma da s vantagens, caro D, de deitar-se no Word algumas intuições, uns desejos disfarçados de necessidade, os comentários inúteis a quaisquer outros leitores. Só interessam àqueles seguidores curiosos ou que estão em busca de novidade, de curiosidade a respeito daquilo que ando aprontando. Só que ando aprontando nada não.

Venho aprendendo a esconder minhas insatisfações na vírgula das conversas fiadas pelo discurso do atraso.

Outro dia veio à minha casa um montador de tela, aqueles emaranhados brancos que levam segurança para as janelas, que lembram a rede que faz companhia para as traves e o travessão da quadra ou do campo de futebol. O moço das redes, simpatia só que a gente vai logo oferecendo café e suco, confessou-me: “desde que que parei de reclamar minha vida passou a render mais”. Com ele aprendi que reclamação é fio sem ponta, quanto mais a gente o procura, mais a gente se perde, não no problema em si; perdemos a paciência, a tranquilidade, a amizade e diria mesmo que até a oportunidade de recomeçar. Que em dezembro a gente possa recomeçar.


Adeus, novembro de 2020!

Abraços, leitor(a)

... farelos por aí 

Salve! Salve! É com muita alegria e gratidão que compartilho minha participação no programa “Versos e preces”. Tive a honra de conhecer e ser acompanhado pelo músico Matheus Luna.

 Na oportunidade, falei um pouco do processo de criação, dos livros "Um estranho para o céu" e "Garimpo das bolhas de sabão". Foi um bate-papo muito leve, com músicas de altíssima qualidade. Segue um trecho da entrevista

 ... farelos por aí ...







 

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