Mostrando postagens com marcador Banquete dos sentidos. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Banquete dos sentidos. Mostrar todas as postagens

 – Veja bem, meu amigo, como essa deusa nos sorri! Bela amante e sinuosa. Como eu a amo!


Grita o homem alinhado, com seu terno branco leite, a seda cai muito bem ao corpo negro e forte, fica em riste o peitoral jovem. O lenço vermelho tem um caimento impecável, o chapéu se posiciona sobre os fios, enrolados pretos fios. Os sapatos, embora gastos pelo samba jambo, se vão polidos, andarilhos cansados. E o odor? Exala jovialidade marginal, perfume manga rosa que a Europa não há de comprar! Já não era mais o cargueiro da manhã. Era um príncipe da mocidade, sorriso cálido e gentil.

 


– Bate palma, meu amigo! Que hoje o banquete é de se fartar!

 


Ia lá ele, por vielas velhas, ruas mortas e vivas, negras e brancas, boêmias e egocêntricas. Cantando uma cantiga de malandro, algo como “laralauê larauê lará”, um sambinha mole como as conversas que ele levava às moças de alma virgem.

 


– Um banquete, meu amigo! Todas as moçoilas trajando seus vestidos apertados, suas saias bufantes que submergem o canal dos anjos, seus seios comprimidos contra o marfim daqueles espartilhos! Meu amigo! Aqueles pezinhos doces, aqueles colos cheirosos. Compadre! Que banquete! Os lábios frágeis, hein! A espera de um grande amor para segredar seus maiores medos e malícias! Jorge que mora na Lua sabe! Como eu as amo! Todas elas! Maria, Carolina, Eugênia, Angélica, Sebastiana, Catarina, Fátima, Camila!

 

E lá vai ele, sambando com seu terno leitoso de seda pelas ruas dos amantes, amando todas e nenhuma, saboreando a madrugada.

 

Salve a malandragem.


Texto: Yasmim Ferreira

Crédito da imagem:

https://www.dw.com/pt-br/do-samba-ao-funk-a-voz-dos-exclu%C3%ADdos/a-36527894

Chester, salada e os acompanhamentos. Acho que tenho tudo que preciso. Os doces ventos da cidade tecem o porcelanato singelo que é essa Lua cheia.

O orvalho crescente transcreve lindas canções nos carros dessa mundana área comercial.

 

Enfim, cheguei em casa; minha áurea transmitia cor azul ciano, como se nada pudesse me atrapalhar.

 

O som da chama do meu fogão parece dançar com minha alma, em um dueto de balé. Começa a chover. Ó doce chuva, que hidrata os grisalhos cabelos da minha avó, gotas que percorrem o casaco do meu precavido tio e criam poças para meus pequenos primos pularem. Parece até uma canção.

 

Seria eu um bardo? Enfim, todos à mesa. Começo a fatiar a alface, que desliza suavemente pela lâmina da minha faca; alface guerreiro, passou a participar na dança do meu espírito.

 

Chester cozido, tão corado quanto o Sol ao se despedir dos céus, dando espaço para a crua Lua. Tudo posto à mesa, hora de degustar a comida ao comando do luar profano daquela noite. Tudo à perfeição, minha família clama por um bis, assim como eu clamo para que meu espírito encontre a Lua. 

Texto: José Massucato

Crédito da imagem:

https://fotospublicas.com/wp-content/uploads/2016/10/Superlua-no-ceu-de-Sao-Paulo-Brasil-foto-Paulo-Pinto-Fotos-Publicas201409080001.jpg


Doce e amarga tarde de domingo em que o sol se alastra como uma mancha, acidentalmente, deixada no céu, por um pintor desatento e ansioso para finalizar sua obra prima. 


A maçã pôtrida em decomposição no cesto de frutas se assemelha tanto a esta tarde de domingo, que se esvaieia com o tempo como o envelhecido e desgastado fruto proibido, consumido por seres irracionalmente pensantes que anseiam viver. 


As leis naturais não os permitem perceber que para essa magia acontecer devem consumir lentamente a vida de outro ser. Sentiriam pena dela se  entendessem que estão comendo-a viva?? 


Quanta humilhação, pobre pálida maçã. A casca escurecida do fruto, delicadamente tecida pelos putrefantes microrganismos, simultaneamente à noite escura que se levanta sem pedir licença, ou sequer nobre permissão, para o Rei Sol. 


Não há divisão, ou dualidade, somente um único ecossistema.


Autora: Yasmim Oliveira


+