Há quase vinte e seis semanas não escrevo uma daquelas migalhas. Com isso, as narrativas foram se desenrolando apenas nas páginas da minha cabeça. 


Só que chega um momento em que as memórias precisam tomar d'água, precisam disparar uns suspiros contra os ritmos da velocidade. 


Porque há a velocidade que traz o atropelo das ações mecânicas, na planilha do vazio. Dessa velocidade, tenho trilhado distância. 


E na contramão desse cotidiano veloz, a redescoberta: a leitura e a escrita ora me desviam para a parede da memória; ora para o catálogo das preces. 


Nesses lugares, eu preciso da escrita como as ideias precisam se vestir para o enredo das histórias invisíveis, ainda não publicadas.


 ... farelos por aí ... 

 

Queria ir embora pra Pasárgada
Assim como Manuel disse ir pra lá
Queria ir embora pra Pasárgada
Onde a existência é aventura
Ele é amigo do Rei
E eu serei um novo alguém

Queria ir embora pra Pasárgada
Lá tem aves a cantar
Mulheres a cortejar
Queria ir embora pra Pasárgada
Lá não há espaço pra me matar
Ou até mesmo pensar em me matar

Quero ir embora pra Pasárgada
Aqui o peito dói
E a chuva cai sob meu olhar
Quero ir embora
Pra onde não tenha dor
Quero ir embora
Talvez não para Pasárgada

Quero ir embora
Quero ir
Pra um lugar onde penso em descansar

Scout

O poema e o desenho são de Scout, estudante da 3ª Série do Ensino Médio.  A composição dos versos foi realizada, após o contato com a obra Libertinagem, de Manuel Bandeira. 


 



A aplicação de provas sempre representou clima de tensão. Há muitos fatores em cena: desde o preparo até a necessidade da nota positiva.

 

Após o retorno ao ensino presencial, por conta da pandemia dos últimos 24 meses, esse quadro se tornou ainda mais explícito. Só quem está diretamente conectado ao universo da sala de aula compreende o que os professores e alunos estão enfrentam. 

 

No meio de tudo isso encontrei um sim, um pedido que, frequentemente, afina o tom das canções de um mundo melhor, inclusive, com menos guerra e discórdias.

 

“Acabei a prova. Posso pegar meu livro na mochila?”   

 

Enquanto os outros colegas não terminam a avaliação, esses outros estudantes aproveitam o tempo para se desconectar deste mundo. Percorrem estradas de enredos empolgantes. Ficção científica, romance policial, fantasia, aquele que inspirou a série, o outro que se passa na Idade Média, um que tanto amo. 

 

Livros! 

 

Até hoje não tive coragem de falar com esses leitores do pós-prova. Talvez por falta de tempo. Também não conheço alguém que tenha escrito sobre esse momento breve na vida dos leitores.

 

Mas chegou a hora! Aos leitores que aproveitam todos os tempos e templos para seu exercício, meu sincero abraço.

...




Era o meio do atendimento. A vendedora consultava o preço um preço para mim, quando atrás do monitor, ele apareceu:


– Com licença, minha senhora...


Confesso que o que veio depois não ficou na memória. Fiquei estático. O que pode ou deveria parecer uma simples abordagem, aos meus olhos, foi MAG-NÍ-FI-CO.


O nome daquele cliente, de poucas palavras, mas gestos nobres, é Roberto. A mãe dele, que estava na estante vizinha foi quem nos contou. Eu e a vendedora ficamos encantados com a educação do Roberto.


Roberto conta apenas com dez anos... e é um leitor voraz e o Brasil precisa de mais meninos assim. Você não acha?






Contagem, 17 de março de 2022 


OLÁ, querido leitor, querida leitora! 

 

Espero te encontrar bem, estudando muito para as provas, realizando todas as tarefas do Para Casa. Graças a Deus, não posso reclamar da vida; pois tenho os leitores mais fofos do mundo: VOCÊ e seus colegas do CAOB. 


A professora Marílhia B. vai até ficar com ciúme, depois de ler isto: a vontade é de sair daqui agora, de avião ou helicóptero,  pousar pertinho colégio e passar uma manhã inteira conversando com vocês. Já pensou nisso? Ah, a professora Marílhia ia dizer assim: 


"Ah, Alfredo, nada de ficar querendo meus alunos. Você já  tem os seus pra lá". Só de pensar na cena, começo a rir aqui sozinho na frente do computador. 


MAS eu estou rindo mesmo é de ansiedade, viu?! Não vejo a hora de a gente se conhecer pessoalmente. Nossa! Será lá no mês de abril ... ainda! Vamos torcer para esse dia chegar logo, não é mesmo?


Você também está ansioso(a) para esse dia?! 


Você deve estar se perguntando assim: por que o Alfredo está assim tão serelepe hoje; não é mesmo? 


Porque já sei qual é o personagem favorito dos leitores de "Um estranho para o céu"; porque eu não imaginava que o "Garimpo das bolhas de sabão" fosse mexer tanto com os leitores do CAOB. Porque, depois de ler todos os comentários aqui do blog, fiquei morrendo de vontade de responder um por um; mas eu não daria conta. A solução?


Escrever esta terceira carta ... e acredito que será a última, antes do nosso encontro. Ah não ser que aconteça de eu receber um outro montão de comentários. Vai que acontece.


Se você chegou até aqui, terá sugestões especiais: 


Para quem leu ou está lendo "Um estranho para o céu", pegue o livro novamente: esqueça a a parte verbal e preste atenção somente na ilustração, do início ao fim. Que outras histórias poderiam ser contadas somente a partir dos desenhos do artista Walter Lara? Você sabia que ele é meu amigo? 


Agora, se por um acaso, você estiver lendo o "Garimpo das bolhas de sabão", uma dica de leitura: procure o texto que você mais gostou. Agora, leia-o em voz alta e tente imaginar em que lugar se passa história. Como é esse lugar? Para que lugar essa história te leva? 


E uma última pergunta para todos os leitores: você sabia que há uma música especial para garimpar bolhas de sabão? 


Mas isso é outra história....


Abs,

... farelos por aí..



 

Belo Horizonte, 08 de março de 2022

 .

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OLÁ! Espero que você esteja bem, querido(a) leitor(a)! Diferente da nossa primeira carta, dessa vez escrevo no final da tarde e aqui está bem quente.


Não sei se você está sabendo, mas eu recebi um montão de cartas aqui no blog. Muitas e muitas perguntas, curiosidades e montão de comentários legais. Como demoraria muito tempo para responder um por um, resolvi escrever esta segunda carta.


Não sei se foi a sua, mas a pergunta que mais recebi foi: “Que desafio foi esse que sua filha Cecília te fez?”


Está preparado(a) para saber? Então, vamos lá!


Certa vez, lá pelo ano de 2018, eu estava voltando da escola de carro com a Cecília. Passando em uma parte da Lagoa da Pampulha, comentei assim: “Nossa, filha, um dia eu quero correr a volta da Lagoa da Pampulha.”


Na hora, essa menina deu uma baita gargalhada, a danadinha nem disfarçou. Ela teve a coragem de falar assim: “Eu duvido que você vá conseguir, pai. Você é tão fracote.”


Nessa hora, eu me senti um bichinho desses pequeninos, respirei fundo e falei: “Ah, é? Quer dizer que não consigo correr os 18 km da Lagoa da Pampulha?”


A menina sorriu e sentiu que eu não estava para brincadeira. Na hora que ela percebeu que eu falei sério, soltou a seguinte frase: “Então, eu te desafio!”


Corri os primeiros 05 km ainda em 2018. Início de 2019, machuquei o joelho. E você pensa que desisti? Depois corri 08, 10, 12, 16 até chegar dezembro daquele ano e vencer o desafio, com mais de 15 mil pessoas. Aquele dia foi inesquecível.


Agora que contei um segredinho, é a sua vez!


Se você leu ou está lendo “Um estranho para o céu”, responda-me: De qual personagem você mais gostou? Por quê?


Se você está lendo o “Garimpo das bolhas de sabão”, qual foi o texto que mais chamou sua atenção? Por quê?


Um forte abraço,

Alfredo Lima

 ... farelos por aí ...


Meu pai começou o dia ouvindo Bach. Quando isso rola, tá pegando algum lance grave aí.


O coroa só ouve Sebastian Bach em situações extremas: êxtase, dor, alegria ou revolta. Não importa, desde que seja muito expressivo.

Pelo volume do som, imagino que o homem vive alguma parada bem sinistra, tá ligado?

Pode parecer loucura, mas o povo aqui se comunica por meio da música.

Agora, por exemplo, o coroa está lá em baixo, no porão, quase terminando a playlist só de Bach. Até o final do dia vai nos contar o que aconteceu.

Com o papai, aprendemos que o melhor momento pode ser encontrado entre a música e o silêncio.

...
farelos por aí ...

 

O que será do futuro dessa menina? Que Deus a abençoe! Porque a julgar por agora, há dificuldade para descrever as atitudes da criança. Para se ter uma ideia, ela jamais aprovou o termo pré-adolescência.

 

Lá pela casa dos dez anos já era fã do Queen, mas nunca negou o gosto pelos clássicos da música: Chopin, Mozart, Bach e Beethoven.

 

Quando o assunto é livro ou filme, seu gênero favorito é a biografia. Adora saber dos bastidores da vida e da obra dos artistas. Com isso, sempre deixa escapar algumas curiosidades nas reuniões familiares.  

 

Por falar em família, recentemente, a menina aprontou uma boa com o pai.

 

“Vai chegar um livro que a mamãe comprou na internet. E é você quem vai ler para mim.”

 

O pai, coitado, um pouco encantado com a disposição das duas, ali sem entender nada, soltou um “Está bem”. A menina já tem doze anos e podia ler sozinha, não?

 

“Segundo o autor, o livro é dedicado aos pais. É para você estudar e aplicar os conceitos que estão lá. Você não vai se arrepender”.

 

Não vem ao caso indicar o nome do livro; mas é com orgulho e gratidão que o moço vai explicitando os conceitos do tal livro para a filha. Para isso, ele vem aproveitando as tardes de sábado.

 

A menina, a cada encontro, vem registrando as lições no caderno vermelho. Dizem por aí que até na segunda e terça de Carnaval, os dois estavam discutindo o comportamento de alunos e familiares que não dão a mínima para os professores.

 

Pelo visto, desse capítulo aí que eles estavam estudando, foi um folião de ideias. Com licença, vou ter que parar de escrever, pois ela acabou de me chamar na sala: “Vem logo, pai. Quero que você veja a budista que falei outro dia”


...

farelos por ... 

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