Quanto menor a letra, mais firme a convicção: a escrita abrirá outros poros na areia da existência.

 

Vem o vento e tampa os buracos e muda a estação e eu não estou nem aí para as sábias mudanças previstas no Calendário dos Previsíveis.

 

Já disse e repito:


– Curto mesmo são as frases da lua, as orações do ano e, principalmente, o intervalo em que as andorinhas encontram os pardais, ao fim do dia, para conversar sobre as migalhas do caminho, o farelo cinza dos fios elétricos.

 

Caderno Azul, 2021.p.44

...

 


 



 


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Um pouco antes das 09h, corri ao sacolão. E lá, exatamente no caixa, uma garota roubou a cena.

 

A pedido da mãe, ela pegou o pacote da promoção, completando as compras. Voltou para a fila, retirou o cartão de uma pequena bolsa, informou que o pagamento seria no débito.

  

A mãe, toda orgulhosa da atitude da pequena, acompanhava todo o processo. Os clientes pararam para assistir à desenvoltura daquela garotinha nos seus 07 anos.

 

– Meus parabéns! Você é muito esperta!

 

– Muita obrigada! Eu que cuido das finanças da minha mãe.

 

Todos os clientes riram e elas saíram carregando as sacolas.

 

Eu ainda nem tinha feito o pagamento da minha pequena compra, quando ouvi:

 

– Moço! Moço! Eu te conheço!

 

Nesse tempo com máscaras, vira e mexe a gente acaba não reconhecendo alguns moradores da quebrada. Acontece.

 

– Você é o moço dos livros! Eu estudei teatro com sua mulher.

 

De fato, eu não me recordava. Parece que a pandemia já dura uma década. A gente se perde ou perdeu. Não é mesmo?  

 

Assim que se reapresentou, ativei todas as suas atuações no palco e nos bastidores da Cena. Por alguns segundos, um enredo se desenrolou nas páginas da minha memória.

 

A menina contou que mudou de casa, está morando em um apartamento agora. Ao final, passou o novo número do telefone da mãe, que aguardava no outro lado do passeio.

 

– Quando começar o teatro você pede a professora para ligar para minha mãe?

 

– Claro!

 

– Promete mesmo, moço?

 

Aquela antiga aluna mudou o ritmo do meu dia. Aquela menina, provavelmente não sabe, mas no início daquela manhã trouxe um feixe de luz para toda família. Ela foi o assunto do dia, tema especial para essa crônica com tinta de recomeço.   

 ...

 


Página 16

Para encarar o próximo mar, resolvi escrever um pouco sobre o que me atrai ou talvez mais sobre aquilo que me distrai.


Descobri recentemente que há elos inesquecíveis do meu outro eu no corpo presente.   


E por que dessa insistência em juntar os elos desconhecidos da minha pessoa? Essas partes querem se conhecer e a única forma de urdir as lacunas, colar as pelas é escrevendo.


A vida tem ateado tanto caos. Pensar tem sido pretexto para não existir.

 

Página 25

Queria que a decadência fosse um quadro gigantesco. Um quadro pintado por todos os sobreviventes deste tempo.


Quem sabe assim, pintando as fraquezas, dúvidas, dívidas e derrotas, a gente não se sentiria mais HUMANO?  

Página 34

Exposição da cicatriz, da falta, é o que defendo no momento. Eu cansei da vida cheia de filtros, contornos, impulsionada pelo gesto mecânico, vazio, da pressa dos ângulos editáveis do mercado.  


Por que no meio de tantas mentiras ser sensato virou motivo para descrédito, repulsa e cancelamento?


Qualquer linha mais substantiva da arte provoca reações catastróficas: “Isso vai causar mimi!” Nossa! Esse tema está pesado demais! Aí você foi brabo”, entre outras expressões passageiras da superfície.

Em que mundo sobrevive esse povo? Quer dizer que a arte só pode ser leve? Eis o templo das gourmetização, do romantismo que só agrada a maioria. E nesse rolo de desinformações, de valores esquizofrênicos o que gera status, escala negócios é o pacote das ilusões:  vida fácil, dinheiro fácil, fama a qualquer custo.


Só o resultado importa?

Página 52

Posso estar enganado, mas sinto que este tempo implora por um pouco mais de expressões sinceras, por manifestos pela união de todas as classes, credos; carece de protestos pelo direito à vida digna... de todos!


Ou posso apenas estar muito enganado mais uma vez. Você também está se sentindo assim... na contramão dos extremos?

 

Série de textos: Caderno Azul


... farelos por aí ...

Como se explicar a relação com a escrita nesses tempos?

Tudo que vai lê nas próximas linhas não passa de uma série de insucessos sobre aquilo que tinge a página, tela.  


Às vezes as palavras apenas surgem como tinta, em cores que ainda não foram nomeadas, dispostas na paleta de um pintor expressionista.


Escrevo para me despertar de sonhos intranquilos da noite imprecisa que se estende por muitas semanas.


Escrevo para voltar à superfície, frágil, mesmo deixando as raízes dos meus dilemas à mostra.

Cansei de fugir. Existir dói menos que pensar. Escrevo para encontrar uma gota de força na rua do reencontro. Escrevo porque preciso me reencontrar.  

  

Caderno Azul (p.7)

04 de julho de 2021

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