É mentira esse lance que a gente confessa tudo para o Diário. Não caia nessa lorota, viu?

Há verdades que não confessamos para ninguém, meu caro. Não posso lhe contar, por exemplo, que estou fazendo um serviço secreto para a para o Governo Federal. Só a polícia sabe.

Não posso me justificar nas redes sociais, dizendo que tive que dar um tempo e só para estar aqui trocando ideias contigo.

Sim, eu sei. Você fica curioso para saber o motivo de eu gostar tanto da segunda-feira.

Então, a gente vai se conhecendo. À medida que os laços forem se estreitando, vou aparar algumas arestas, combinado?

Só não podia deixá-lo sem mandar essa ideia.

Abs,

... farelos por aí ...



 

Caro D,

De uns tempos pra cá, depois que a gente estreitou os laços, venho aprendendo uma série de lições.

Se não lhe contei ainda, saiba que você é para mim uma meditação.

Uma lição importante desses últimos tempos é a concentração na tarefa do momento.

Do contrário, com todas as atividades em mente, você perde a noção, desanima-se, frustra-se. O importante é procurar pensar nas coisas daquele momento, sem atropelo.

Quando estou fazendo caminhada, por exemplo, busco aproveitar ao máximo aquele momento. Se ficar pensando em tudo que tenho que fazer, meu amigo, o exercício se torna enfadonho, mecânico demais.

Com isso, estou aprendendo a paginar tudo que tenho que fazer. Tenho feito isso com a ajuda de notas adesivas, dos lembretes e das anotações simples.

Ao contrário da maioria, parceiro, eu amo a segunda-feira. 

E às 05h47 da última segunda de outubro de 2020, estou aqui conversando contigo, após a caminhada de 5 km, coar o café, tirar o carro da garagem, preparar a mamadeira caçula. E já pronto para fazer a leitura do dia, testar os aplicativos da aula dessa manhã e receber meus alunos.

O tempo enorme da nossa conversa diz das minhas mudanças.

Abs,

... farelos por aí ...  

 

Caro D, estava com saudade de mim? Você não põe sentido na pancada de tarefas que os chefes passaram depois daquela semana de liberdade.


Alguns não respeitaram nem o santo Domingo e já foram despejando tudo nas nossas caixas de mensagens e espalhando sem dor e piedade nos grupos de WhatsApp. “Misericórdia”, minha vó diria.


Moral da trajetória: seu parceiro aqui ficou sem tempo para lhe escrever, meu chapa.


Ah, nem te conto. Assim de cara, pá! Rolou um sábado letivo! Um dia chuvoso no Regime Remoto. Você já sabe o final dessa manhã, não é? Choveu ausência na tela, meu caro.


Oh, o papo está ótimo, mas preciso me dedicar a um outro trampo aí.


Um grande abraço e até qualquer dia.


farelos por aí


É domingo e o recesso de professores e alunos está terminando.  Foi um tempo muito rico para todos nós.  Desde o dia 08, afastei-me das redes sociais. Daqui para a frente o uso delas será com outro foco.

Quero me cuidar em relação às inúmeras demandas da vida de professor. Como nos diz o poeta Sérgio Vaz: “A rotina é máquina de moer gente”. Não serei mais a carne que alimentará essa máquina.

Precisamos de atividades físicas, precisamos ter tempo para almoçar, estar com os familiares. Precisamos viver de forma digna. E que Deus continue nos abençoando nessa importante missão.

Nesse recesso, tive tempo para identificar meus defeitos (que não são poucos); mas também consegui identificar algumas qualidades.

Nota de partida

Na manhã de ontem, um professor de História de uma das redes de colégios onde trabalho sofreu um acidente na avenida Contorno, em Belo Horizonte. E foi fazer companhia para as estrelas. Que Deus conforte a família do nosso companheiro.

 08h23

Há sete meses o educador e escritor Paulo Fernandes envia de bom dia lindas, poéticas e reflexivas mensagens para seus amigos. A intenção do artista é suavizar o dia dos seus leitores mais próximos.   

Paulo, alegria ser um dos seus amigos e poder receber essas “gotículas de literárias”! Elas chegam sempre na boa hora. Não vou mentir, dizendo que as leio todos os dias, religiosamente. Mas até dessa minha sinceridade você sabe; pois somos amigos e você respeita minhas ausências.

Caro D, não fique com ciúme! O Paulo foi meu primeiro leitor oficial, viu? Entre 13 e 14, acompanhou a jornada das publicações diárias. E por isso sou muito grato à confiança, à amizade e parceria dele.

Mudando de assunto...

Minhas sobrinhas gêmeas dormiram na nossa casa ontem. Rolou sessão de cinema, games, disputas e uma deliciosa rodada de pizza. E para completar: uma gostosa chuva de primavera.   

Elas ainda estão dormindo ao lado da nossa filha mais velha, a caçula com a mãe arrematando  o leite que busquei mais cedo na padaria, João Londrina está ajeitando os ferros de briga e eu vou me aquecendo para o freela que vai bancar parte das contas que guardam a vez.

 

Você consegue me acompanhar? 

“Aqui é braúna, não é qualquer estaca dessas porqueiras que aí estão.”

João Londrina conseguiu me acompanhar os 4 km do início do dia. Para nossa surpresa, também não abriu o bico, após correr seu primeiro quilômetro.

João Londrina topou o desafio e está caminhando comigo. Como acorda muito cedo, mas só pode começar a trabalhar, às 07h, quer destinar parte desse tempo ao exercício físico.

Foi ele quem me falou da beleza da flor de braúna, árvore resistente do cerrado brasileiro.

Ao longo da atividade, colocamos a prosa em dia, sonhamos com o fim da pandemia e, vez ou outra, aprendo com ele sobre a importância de se ter um compromisso com as coisas.

Sim, caro D, eu voltei à estaca zero. Graças a você, voltei a caminhar, a escrever diariamente e a ter múltiplas ideias. É muito bom encontrar um ritmo para a vida que segue.    

Abraços,

... farelos por aí ... 

 Adoraria que mesmo com essas turbinas de avião caindo em nossas cabeças, com esses ventos irônicos assoprando o bigode da nossa hipocrisia...

Amaria que ele voltasse para casa, chegasse arrancando os uivos dos vizinhos, que sacudisse os portões estragados da rua ...

Gostaria, claro, que ele nos deixasse pegar no colo, acariciar sua barriga que depois dessa ventura carrega o incêndio da fome.

Não. Ele não atendia pelo nome. Não deu tempo de colar o anúncio na rede. Quando voltamos ele se foi e parece que não vai mais voltar.

É, caro D, a saudade do nosso gato bateu.

... farelos por aí ...

09h41

 Caro D, quando surge uma ideia, venho aqui e a deixo aqui registrada.

Já que nós professores da rede privada não somos ouvidos pela imprensa, pela prefeitura, pelos políticos e, em alguns casos, nem pelos nossos próprios diretores; por que não escrever um livro de diário, retratando tudo que nós estamos passando nesse épico ano de 2020?

Será que alguma editora estaria disposta  a publicar o que nós estamos enfrentando?

Caso não queira, quero que fique registrado que o que nós estamos enfrentando é uma baita crueldade.

Se por um acaso alguém, além do autor,  estiver lendo esta página de diário e se interessar em saber o que estamos passando, entre em contato pelo blog.

Apresente-se e trocaremos algumas ideias.  
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