Para marcar o início das atividades de 2023, marcamos presença na "Reinauguração da Biblioteca da Quebrada". 

Com as doações de alunos e antigos alunos, lá em 2019; com a parceria da Ong Terra Santa, temos a alegria e a gratidão de  dizer que fundamos a primeira biblioteca comunitária da nossa região.

No espaço, carinhosamente, coordenado pela amiga e parceira Verônica Souza, temos o privilégio de apreciar um dos trabalhos do artista Luís Otávio, grafiteiro responsa que sempre apoiou nosso corre. Já pensou em participar de um evento lá?

HOJE, doamos mais livros para a recomposição do acervo e levamos a peça "O menino que virou história", que tem direção da atriz Leandra Pacífico e produção deste que vos fala. No elenco, contamos com os jovens da Cena, projeto pioneiro do Instituto Livros em todo lugar.

E vamos que VAMOS espalhando literatura & teatro por aí ...

Você vem com a gente?



#lerecriarasas #artesalva #literaturanosune

#leituranostransforma #doacaodelivros #livrosemtodolugar


*Marco Túlio Damas Chaves
Ela era uma garota quieta, tímida,inteligente e sem amigos.
Era sardenta, usava grandes óculos  e vivia em um mundo completamente diferente da realidade que lhe era permitido por meio de seus velhos livros de fantasia.
Ela tinha o sonho de se formar em psicologia e se tornar capaz de compreender o comportamento humano em suas diferentes esferas, mesmo não sendo capaz de compreender seus próprios comportamentos.
Seus braços e pulsos retalhados não mentiam sobre sua situação emocional. Suas longas e grossas blusas de frio serviam como armaduras, pois escondiam todos os seus problemas, que mesmo ocultos para aqueles ao seu redor, machucavam-na em todas as instâncias.
Nas noites em que Sophie se pegava... se cortando, ela refletia profundamente. Cada gota de sangue perdida era tratada como uma gota de alívio. Cada pontada de dor que sentia, ela tratava como uma forma de expurgar seus erros. Cada gota, um sonho. Cada sonho, uma gota.
Em um destes dias de total recaída, Sophie passou dos limites.
Sophie foi fundo em seu pulso, tão profundo quanto sua depressão. Acertou aquilo que era considerado inalcançável. Certamente era o corte mais fundo que já tivera feito. Sonhos escorriam por seus braços. A água na qual estava submersa já não era mais água, já não era mais Sophie.
Os sonhos tomaram conta de toda aquela pequena banheira no segundo andar de sua casa. Os sonhos de Sophie eram eternos, mas Sophie não era.
Sophie havia perdido muitos sonhos até aquele momento, e sem sonhos, não havia Sophie.
As gotas, pararam, e Sophie?
Pobre Sophie. Naquela realidade ela  já não morava.
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 *Marco Túlio Damas Chaves é leitor de Clarice Lispector, estudante do Ensino Médio

Imagem disponível em:
http://lounge.obviousmag.org/das_artes/2014/12/garota-interrompida.html.jpg?v=20160709090337

– Não vá. Não vá ainda – disse a mulher, um pouco sem jeito, segurando meu braço direito.

Um pedido daqueles, naquele horário, o restaurante enchendo.
Quero apenas que veja a foto que tirei na última manhã – entusiasmada, entregou-me o celular.
A princípio, gostei da luz. Uma ponta da igreja, à esquerda, um troco e nada demais. Pensei.
– Sabe quem sou eu na imagem?
Era a primeira vez que eu me sentava à mesa com a tal mulher. Um por acaso. Não fazia a ideia do que ela perguntava.
– Não precisa refletir muito. Eu sou a solidão da ave. Nessa idade, moço, eu só aprecio as extensões do vazio...
No caixa, descobri que Dona Robertinha, com quase oitenta, vai lá todos os dias (no mesmo horário) para se encantar com a alegria das crianças da escola.
Dona Robertinha é a melhor imagem do meu dia.

Caderno Azul
imagem: farelo

Outro dia eu quase convidei o Frentista Sorriso para tomar uma água de coco.

Era véspera de feriado, desses prolongados, bom para reunir toda família. O posto estava vazio, gasolina nas alturas.

– O senhor deseja mais alguma coisa? – quis saber, olhando para o capô.

– Apenas isso por hoje.

Digitei a senha, recolhi o comprovante e enquanto ajeitava o cartão, a despedida inusitada:

– Bom feriado pra você e sua família!

– Pra você também. Ah, se tiver churrasco lá amanhã, fico aqui até às 14h. Cê vem me buscar?

Assim, ele encerrou o atendimento, com o sorriso mais escandaloso do planeta.  

– Da próxima vez, o senhor vai abastecer com ele, certo? – indagou a caçula no banco de trás.

 

Caderno Azul

... farelos por aí ...

imagem: Pixabay

Era o canto de pássaro mais estridente da rua. Passei o portão e lá estava o canarinho em cima do poste, que fica de frente pra nossa casa. Cantava de estalar.

De repente sai da casa dele lá o seu Geovane, nosso vizinho e dono do amarelinho fujão.

– Toda vez que foge, ele não vai pra longe.

– Que canto incrível! Há quantos anos não ouço o canto de um canarinho, meu Deus!

– O senhor sabe por que ele tá cantando assim, afinado, alto, de parar o quarteirão?

– Sei não.

– Em conversa de passarinhos, ele está chamando a fêmea. Por isso que esse canário sempre voltou.

Nessa hora, eu não sabia se apreciava o canto ou buscava entender a história de amor. que o moço me contava:

– ... ele só vai se a companheira for.

 


Caderno Azul

... farelos por aí ...

Crédito da imagem: Yassir Abbas

 


O seu Ronaldo ficou encantado com o par de tênis, o presente azul da garota de 12 anos.  

– Vai ver que foi por conta daquela música All Star que o Nando Reis fez pra Cássia Eller.

– Na verdade, não. Eu vi no filme Eduardo e Mônica com minha mãe.

– Êta família pra gostar do Anos 1980.

 


Caderno Azul

... farelos por aí ...

Crédito da imagem: Dan Cristian  Păduret 


A partir desta linha, não me leia.

Eu preciso ficar esquecida nesta página.

Preciso ser encontrada como um ponto obsoleto na insignificância do cotidiano

Não venha encontrar sentido naquilo que escrevo. Você poderá se perder também.

É que estou cansada desse tabuleiro com peças marcadas, essa sinuca viciada, essa conversa de ponta de taco que nos leva ao lugar nenhum.

Começo a abandonar os sinais e os limites
da conversa fiada para adentrar o terreno das revelações.

Que droga de existência é essa que quanto mais a gente avança menos a gente descobre de que lado a vitória virá?

Foram tantas derrotas em tão pouco tempo que chego a questionar as cores desses ruídos na caixa dos falsos

Já não posso dançar beber não posso José de Drummond disse que Minas não há mais e que é o estado mais odiado da região Sudeste

Tô pouco me lixando pro que vão pensar de mim vou continuar batendo ponto ciente de que alguém vai ajudar essa desnorteada ainda nessa primavera

Não estou contando com a copa o trem fica ruim pra gente porque depende de como a seleção vai  em campo não vou mentir pra senhora a gente precisa receber:

um sinal in antes 


Assinado: Sarita Jones

Registros do Caderno Azul 

... farelos
               por aí ...

Crédito da imagem: 
Atahan Demir 

21 de julho de 2022

 

Querida Amanda Ribeiro,


há três semanas venho, de alguma forma, me preparando para este momento. Por conta de tantos insights, os reels não foram suficientes... (mas a gente vai continuar lendo seus versos por lá, viu?)


o lance é que sua Máquina dispara muitos flashes e a gente sai criando cenas e séries e vem o desejo de fazer um filme, será que você entende?


o percurso pelos “cômodos preferidos” (imagine duas personagens escolhendo o cantinho favorito do lar), um close naquele presente-lembrete, o bilhete do “bolso na calçada”, ao ritmo do jazz, hein?;


e a poeta ali costurando a distância, apresentando aos espectadores a instância ... em versos inquietos livres que nem abelha zunando  por tudo quanto é parte da Floresta, beira e centro da cidade, memórias; o instante da palavra aqui-acolá na cozinha, banho, quartos, na “casa de estar”. A essa altura, sua cameragirl ficando louca:


– Tudo isso tá aí no livro? Como vamos gravar esse filme?


– Fique calma, menina. A verdade é de que de cinema quem entende mesmo é a Amanda Ribeiro, a compositora desses cantos.


– E o que você vai fazer?


– Aquilo que mais nos aproxima das entrelinhas do labirinto da poesia.


– Já entendi, pai. Quando você vem com essas paradas de estrelinhas... Só não sei se ela vai curtir.


Isso eu também não posso afirmar, mas em segredo aqui (Amanda, a Cecília estava falando das leituras do seu mais recente livro naquele Caderno Azul, lembra?)

Agora, minha amiga, você reconhece: só sei dizer com palavras, primeiramente nas linhas do tal brochura, de formato 140mm x 200 mm, 96 hojas; depois no horizonte das antigas fichas pautadas e, posteriormente, aqui no blog.


Outra revelação: escrevo-lhe da cozinha, após duas xícaras de café. E você não imagina o quanto estou contente com a leitura de seus poemas, a satisfação, surpresa em cada esquina dos seus temas: o amor, a paixão, o ir-vir-e-o-devir da epopeia sempre à disposição cotidiano e que só as poetas e as cronistas captam (você).


Que maravilha ... quão mágico é ser recebido nas três portas da sua casa-livro! As epígrafes nos acolhem com tanto carinho que acabam espalhando a vontade de a gente explorar cada cômodo no ritmo das estações do ano. Queremos ficar!


Pode lhe parecer um pouco confuso, mas com o elegante parafuso de suas minúsculas na cadência gostosa das vírgulas – tudo flui e evolui – os leitores vão sempre se encontrar no fuso de sua poética; do olhar para o céu, deitadas em “repouso”, aos mil pastéis de queijo na pastelândia, seus versos nos abrem janelas para o “infinito ... particular”.   


ATENÇÃO! ATENÇÃO! Com este ensaio malucão, acabamos de receber uma notificação: Ao ficar ciente do interesse em gravar um curta-metragem, a editora Peirópolis informa:


“Máquina de costurar concreto”, de Amanda Ribeiro, compõe a “Biblioteca Madrinha Lua”, coleção de poesia contemporânea inspirada numa das mais importantes poetas brasileiras do século XX, a mineira Henriqueta Lisboa (1901 – 1985). Este projeto é coordenado pela professora e escritora Ana Elisa Ribeiro. 


 


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