21 de abril e treta no barracão

Muito diferente da penúltima manhã, quando fui acordado pelas gargalhadas da minha filha que lia um livro muito envolvente.

Muito distante daquelas amanhãs que o despertador atravessa as últimas camadas do nosso sonho tranquilo e necessário.  

Acordaram-me nessa manhã com treta. Confusão daquelas que a gente, mesmo no barracão de cima, consegue ouvir com detalhes as desavenças de cada envolvido.

Podem me chamar de fofoqueiro!  Cronista da discórdia! Mas foi uma delícia nesse 21 de abril da Quarentena. Foi, gente.

Tapa, soco, pancada ... isso não rolou não.  O barraco do casal me despertou de tal maneira que passei a curtir cada frase, sílabas que disparavam uns aos outros. Saí do meu colchão e na janela, em silêncio, bebi cada movimento.

Ele batendo nas vasilhas e resmungando umas palavras carinhosas de dar medo.

Ela, imagino que descabelada, andava de um lado para outro, gritando frases de ofensas mil ao esposo.  

Uma pena! Em poucos minutos, os filhos acordaram:

– O que tá acontecendo?

– Gente, não deu nem cinco da manhã e o cês nesse bate-boca ?

– Ah, um tanto de gente com criança dormindo aí no lote, seus malucos.

 – Quem esquentou meu sangue foi o irresponsável do seu pai.

– Olha se isso é jeito de me tratar? Até parece que eu sou de te desrespeitar, Diva.  

– Gente, por que ocês estão brigando?

– A vontade é de esfregar sua cara nesse fogão, homem.

– Aí você está passando da conta, sua...

– Eu nem toco nas suas ferramentas, Romão.

– Perdi a paciência, a vontade de tomar café, a fome do almoço, a fome do dia inteiro.  

– Cê não vai levar marmita pra obra, pai? Hoje é feriado e o patrão não vai levar comida pros peões.

– Vai, vaza daqui, seu imbecil. Que morra de fome lá.

Escutamos a batida da porta (com uma força) e na sequência a do portão. Romão saiu cuspindo marimbondo. Até agora não deve ter se acalmado.

– Agora, que a senhora tomou um copo d´água com açúcar, dá pra explicar o que aconteceu?

– Brigamos porque seu pai queimou uma panela minha.

– A senhora tá de brincadeira, mãe?

– Não intromete, Maicon.

– Também estou vazando, gente.

Eu nunca imaginei que uma panela fosse provocar uma confusão dessas.

... farelos por aí ...



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