a descoberta e o presente

A Menina sabe o quanto o pai gosta da Clarice. Com frequência, ouço dela a seguinte pergunta: “Esse livro grossão de contos aí quem te deu? ”  Verdade! A Menina me presenteou com todos os contos da Clarice Lispector.

Por outro lado, o que essa Menina não sabia é que eu nunca tinha lido uma obra infantil da Lispector. Nenhuma

Outra surpresa!

Um dia desses aí, a Menina veio me mostrar um dos tesouros da rainha:

“Jura! Você pegou um livro da Clarice Lispector na biblioteca da sua escola? ”

“É ué! Você não está vendo? ”

É que pai fica meio abobado diante de umas cenas assim... (sem palavras). Não é todo dia que uma garota com quase-quae dez anos tira da mochila um exemplar de “O Mistério do Coelho Pensante”, concorda?         

“Não me conte nada a respeito desse livro. Nada de spoiler, viu? Vou ler e depois a gente conversa com a respeito, combinado? ”

A Menina balançou a cabeça em tom desafio:

“Vou ler muito antes de você”.

E leu.

Entre uma prova e outra, semana da criança, um resfriado, febre; o livro ficou esquecido no fundo mochila até o dia de em que não resisti...  

Fui gatinhoso. Sem pedir licença, sem saber se a tal Menina já havia percorrido aquelas páginas. 

Por que o nariz do coelho é cor-de-rosa?

O que os coelhos pensam dos seres humanos?

A verdade é que encontrei uma Clarice muito diferente daquela das obras adultas. Lúdica, muito engraçada, divertida para crianças de todas as idades. Inteligente como sempre. 

Li a o livro duas vezes por não acreditar que estava diante de uma narrativa tão agradável e tão cheia de laços, com diálogos mil.

A verdade é que estava louco para sentar com a Menina para contar minhas impressões. Fui todo entusiasmado e ela me brecou.

“Ah, você gostou? Eu amei. Mas acho que você vai pirar mesmo é com esse outro aqui.”

De repente, ela foi ao fundo do guarda-roupa e de lá me apresentou um outro título.

A Menina do Baú Vermelho exibiu toda contente o segundo livro infantil da rainha: “A vida íntima de Laura”.

Amanhã, ela vai completar dez anos. Esse é, sem dúvida, um dos maiores presentes que nossa filha nos dá: descobrir Clarice Lispector.   



... farelos por aí ...


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