Quando resolver fazer uma reforma, pense nesses elementos essenciais, nessas verdades:

os valores nunca fecham, pois, um serviço puxa outro que puxa outro;

prepare-se para assustar com a diferença de preço de um estabelecimento para outro e também se cuide para lidar com os vendedores e entregadores, nem todos são confiáveis;

você vai passar muita raiva, principalmente, com o pedreiro. Ah, disso ninguém escapa.

Agora, prepare-se emocionalmente para lidar com sua esposa, seu esposo. Reforma é de pirar o cabeção de qualquer um, caro D.   

Só quem faz sabe o que enfrentamos. Estou escrevendo agora para não criar transtornos com o final da minha reforma, mas como é desgastante. Deus do Céu!!!


– Não feche a janela.

– Está ventando muito. É perigoso você gripar.

– E onde a Fada do Dente vai entrar, pai?

– É verdade! Ela VEM nessa noite.

– Uma pena que ela só vem na hora que a gente tá dormindo, né?

– E se a gente deixar uma greta assim desse tamanho na janela? Ela passa?

– Nossa, pai, ela não é gorda assim. ELA não tá igual o senhor. É uma fadinha.

– Quem disse que não tem fada gordinha igual ao papai?

– Minha vó. Ela disse que as fadas voam muito e são todas magrinhas.

– Amo minha sogra! Sua vó é um espetáculo à parte.

– Pai, vem dormir comigo. Se não a fada não vem. Ou vai pra casa do meu coleguinha

– Tô indo.


Crônica: Alfredo Lima (Farelo) 

Imagem disponível em: https://www.dentistaorganizado.com.br

 

Caro D, nesse final de semana me dei ao luxo de partir para uma leitura totalmente inédita.

Antes não era tarde, de Pedro Gonzaga 

Parti para um livro ainda lacrado, crônicas de um escritor de quem eu nem nunca havia falado. Não se foi a fotografia da capa, o título poético, as cores. Não sei mesmo.

Não sei se pelo fato de o autor ser poeta, músico, tradutor. Só sei que as crônicas me acertaram em cheio, Caro D. A abordagem dos temas, as imagens poéticas, o olhar crítico e estranho para o cotidiano.

Gostei tanto que parti para o Instagram para saber se o escritor estava por lá. E estava. Agora nos conhecemos. Gostei tanto que o marquei em um post que compartilhei com meus seguidores. Gostei tanto que quero trabalhar algumas crônicas em sala de aula.

Há tempos não me envolvia assim com um livro. Questão de luxo nesses tempos de pandemia, viu?

Hoje é Feriado de Finados, mas não resisti ficar longe de ti, companheiro.

Abs,

... farelos por aí ...   

05h32 da última sexta-feira de outubro. 

Chego da caminhada, cheio de ideias, de temas para pesquisar.

Temas? Nada de importante para o mundo das urgências, o universo das demandas do imediato.

Gosto de assuntos que me levam a todos os lugares, em especial, o lugar do Nenhum. Lá onde a curva acena para o presente e o futuro estrala suas retas.  

Em breve, quero pesquisar um pouco sobre as espécies de sabiá. Assim, voltarei a sonhar com aquelas estações que roem o arame da gaiola do mercado.

Caro D, você sentiu minha falta ontem? Vai ver que não, né? Não foi por esquecimento, mas pelo excesso de tarefas. Que professor não virou um tarefeiro nesses últimos sete meses?

Tenha paciência comigo, meu parceiro. Vai chegar a hora que a gente vai se encontrar todos os dias. Não posso prometer quando. Não prometo mais nada. 

Em tempos de campanha política, a gente tem que afastar essas palavras dos rastros do cotidiano. Vai que vira praga desses vilões que aí estão?

Abraços,

... farelos por aí ...  

 


Faltando 12 minutos para a última reunião do dia, sento-me à frente do computador.

A única coisa que gostaria de fazer lá por pelos próximos 90 minutos, no mínimo, era escrever, reescrever, desligar-me por completo da rotina, essa “máquina de moer gente”.

Apenas.

Mas querer isso é muito, no contexto em que estamos inseridos, meu caro D.

Ontem, tive uma baita dor de cabeça, fui dormir mais cedo, não consegui me madrugar para aa caminhada. Eu ainda estava zonzo.

Ainda havia aula para preparar, ministrar, e-mail para responder. À tarde, levei minha filha para a aula de música, depois busquei o videogame, natação, feira, natação de novo.

A tarde voou. Eu quase não arrastei pelo chão das atividades.

Em menos de cinco minutos, a reunião. Que Deus nos proteja e que lá eu possa me desligar um pouco das tarefas.

Abs,

... farelos por aí...  



É mentira esse lance que a gente confessa tudo para o Diário. Não caia nessa lorota, viu?

Há verdades que não confessamos para ninguém, meu caro. Não posso lhe contar, por exemplo, que estou fazendo um serviço secreto para a para o Governo Federal. Só a polícia sabe.

Não posso me justificar nas redes sociais, dizendo que tive que dar um tempo e só para estar aqui trocando ideias contigo.

Sim, eu sei. Você fica curioso para saber o motivo de eu gostar tanto da segunda-feira.

Então, a gente vai se conhecendo. À medida que os laços forem se estreitando, vou aparar algumas arestas, combinado?

Só não podia deixá-lo sem mandar essa ideia.

Abs,

... farelos por aí ...



 

Caro D,

De uns tempos pra cá, depois que a gente estreitou os laços, venho aprendendo uma série de lições.

Se não lhe contei ainda, saiba que você é para mim uma meditação.

Uma lição importante desses últimos tempos é a concentração na tarefa do momento.

Do contrário, com todas as atividades em mente, você perde a noção, desanima-se, frustra-se. O importante é procurar pensar nas coisas daquele momento, sem atropelo.

Quando estou fazendo caminhada, por exemplo, busco aproveitar ao máximo aquele momento. Se ficar pensando em tudo que tenho que fazer, meu amigo, o exercício se torna enfadonho, mecânico demais.

Com isso, estou aprendendo a paginar tudo que tenho que fazer. Tenho feito isso com a ajuda de notas adesivas, dos lembretes e das anotações simples.

Ao contrário da maioria, parceiro, eu amo a segunda-feira. 

E às 05h47 da última segunda de outubro de 2020, estou aqui conversando contigo, após a caminhada de 5 km, coar o café, tirar o carro da garagem, preparar a mamadeira caçula. E já pronto para fazer a leitura do dia, testar os aplicativos da aula dessa manhã e receber meus alunos.

O tempo enorme da nossa conversa diz das minhas mudanças.

Abs,

... farelos por aí ...  

 

Caro D, estava com saudade de mim? Você não põe sentido na pancada de tarefas que os chefes passaram depois daquela semana de liberdade.


Alguns não respeitaram nem o santo Domingo e já foram despejando tudo nas nossas caixas de mensagens e espalhando sem dor e piedade nos grupos de WhatsApp. “Misericórdia”, minha vó diria.


Moral da trajetória: seu parceiro aqui ficou sem tempo para lhe escrever, meu chapa.


Ah, nem te conto. Assim de cara, pá! Rolou um sábado letivo! Um dia chuvoso no Regime Remoto. Você já sabe o final dessa manhã, não é? Choveu ausência na tela, meu caro.


Oh, o papo está ótimo, mas preciso me dedicar a um outro trampo aí.


Um grande abraço e até qualquer dia.


farelos por aí

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