Assim, assado, seu aço não encosta na porta desses sonhos medonhos, diante do reflexo.

Sou vagabunda, suja e imunda, mas não mudo, mude você com suas alas de ostentação. 

Não quero me ver diante dos seus reflexos, esses restos de nexos embaralham nossos traços. 

Meu laço é com a poesia das ruas, a cor dos muros, o silêncio dos pássaros sem gaiola. 

Quebre esses espelhos, quebre esses vidros, amasse essas imagens que se multiplicam e vire.

Desloque essas luzes pra dentro do escuro que há em ti, vive em nós.

.. farelos por aí ... 
A nossa filha acabou de ler um livro inteirinho nessa tarde! 

– Venha cá, filhinha. Mostre para mamãe o livro que você leu.

A garota levantou “O dragão que era galinha-d´angola” e exibiu a capa na maior empolgação.

Em poucos minutos, desenrolou o enredo para nós e avisou: “Vou escrever a dica e depois você vai postar no blog, tá?”

– Eu indiquei um livro do Valter Hugo Mãe para minha esposa e ela ainda não leu. Tenho certeza de que ela vai adorar “O paraíso são os outros”.

– Opa! Parece que não estou aqui na frente de vocês. Espera lá. Vou falar...

Ela ficou brava e pá:

– E o que que está acontecendo com você, marido? Alguma doença?  Por que não tá lendo? Essa semana cê tá esquisito demais, viu?  Eu vou ler, mas quero a separação.

 Aí eu fiquei doido nessa hora. Essa mulher pirou, essa mulher está doida. Não pode ser.

– Separe desse computador logo, homem. Vai fazer o que você mais gosta na vida.  Tá vendo aí a lição que a nossa filha tá dando? Aproveite o recesso escolar e vaza daí da frente dessa tela.

Passei a mão em um título que já estava me esperando, dando bola, desde o início de tudo isso.

Ah, foi amor à primeira vista. Gostoso e veio cheio de histórias, comentários, reflexões, críticas.  Um diálogo envolvente. “Fomos maus alunos”

Fui para a cama mais tarde, saciado ou quase isso. Porque amanhã eu vou pegar outra história e vai ser assim em todos os dias da semana: um livro por dia.


Com tudo isso acontecendo, este verdadeiro cenário distópico, caótico, a gente se assusta, a gente se irrita. Não é mesmo?

E hoje, aliás, ao longo de séculos da nossa história, nada mais justo do que (re)pensar alguns símbolos que infelizmente nos traduz.

Refiro-me à relação entre ódio afeto, a um retrato muito fidedigno que a escritora Clarice Lispector captou da cidade de Brasília.

Observação importante: esta é a página do meu diário e o título é uma ironia. Perdoe-me, mas eu não queria escrever assim “18/05/2020 ... diário do farelo ...”

Não sei se você que me lê, mas segunda-feira é um bom dia pra gente pensar em ratos.

Sei. Pode lhe parecer papo de louco, mas tudo isso ainda será pouco para o que a nossa musa escreveu em uma de suas crônicas:

"Os ratos adoram a cidade. Qual será a comida deles? Ah, já sei: eles comem carne humana."

Esse retrato está na obra “Para não esquecer” e combina com o nosso dia. Vale lembrar uma das frases mais impactantes de outro livro da autora A hora da estrela. É de lá essa pancada: “A vida é um soco no estômago.”

Ui! Fique à vontade para compartilhar esta minha página de diário por aí, ok?

A imagem que ilustra este post está disponível em:



Há exatamente 1 ano, 17 de maio de 2019, eu iniciava uma série de palestras, bate-papos. No melhor das definições, tive a oportunidade de conversar com os leitores acerca do meu livro Um estranho para o céu.
Para celebrar essa rica experiência, coloquei a máscara e corri no início da noite. Na Pampulha? Não. Nem pensar. Foi em uma rua deserta da minha quebrada. Fiz meus primeiros honestos 5 km, desde o início da quarentena.

Refiro-me ao confinamento social, em razão da pandemia causada pelo COVID-19.

Nessa difícil corrida, correram também muitas ideias na minha cabeça, projetos para a médio e longo prazo.

Faço questão de compartilhar com você uma desses insights: criar uma série especial a partir de textos breves da obra de Clarice Lispector. Se você ainda não sabe, este é o ano do Centenário da escritora.
O que você tem a dizer sobre essa ideia?

Você já leu alguma obra dessa autora?

Deixe seu comentário.


Uma de minhas mães não permitia a entrada de certas palavras em sua, nossa casa. Ela é costureira. 
O cuidado com que lida com os tecidos é semelhante à forma sensível que pronuncia os vocábulos que entram e saem de nossas vidas: doce, macio e leve. 
Ninguém pronunciava “ódio”. Dizer que odiava alguma pessoa era a maior ofensa do mundo. 
“Essa é uma palavra que nunca deveria ter entrado no dicionário”, ela me disse um dia. 
Olhe que minha tia tinha muitas razões para odiar determinadas pessoas, mas isso ela não fazia.
Certa vez, minha prima falou que a vida estava uma “desgraça”. Minha tia deu lhe uma surra de cenas recheadas da falta de graça.
A garotinha chorou muito, mas a palavra nunca mais foi pronunciada.
Agora me pego em sonhos: qual palavra deveria sair da nossa vida? 


Olá, gente! 
Hoje eu vim indicar um livro  que se chama “O Rei Preto de Ouro  Preto”, da autora Sylvia Orthof.
Você se surpreende como é contado e com quem narra a história.  É muito legal!
As ilustrações são lindas tomara que você goste.
Até  a próxima indicação
Tchau,
A Menina do Baú Vermelho

Título: O Rei Preto de Ouro Preto
Autora: Sylvia Orthof
Editora: Global 


Preparei o café do jeito que você gosta: pouco doce, mas não muito forte.

Comprei aquela rosca que lembra tanto a roça, quitanda do interior das Minas Gerais.

Hoje você não vai preparar o almoço na correria de todo dia, Helena.

A cozinha está arrumada. Adiantei algumas coisinhas, ontem à noite, enquanto me desligava do mundo.

Tem feijão na geladeira. O arroz pré-cozido também está lá, viu? Descasquei alguns dentes de alho. Lavei a verdura que comprei bem cedinho, quando voltava da padaria. Sim, amor, deixei um tempinho na água sanitária.

Montei uma playlist de Bach para o momento que você for preparar o almoço de nossas filhas. O link está no seu WhatsApp.

Fale para a pequena Elis que o Sassá do Pé de Sonho vai nos enviar a nova versão daquela música de que ela tanto gosta: “Bicho de Bocão!” À noite, vamos brincar de “Quem é o dono da rua?”

Ah, não se esqueça de dizer para a Jessie que hoje é o Dia Internacional do Jazz. Para celebrar essa data tão especial, o poeta Marcus Vinícius de Souza vai mandar uma live, às 16:12 – bem britânico assim mesmo – no Instagram. Já fico até imaginando os ritmos que ele vai tocar no sax.

Está quase na hora de descer para obra, vou indo.

Mas eu vou voltar, Helena! Chegarei antes da dança das estrelas no escuro do céu. Antes do canto sagrado da Ave Maria.

Sim, eu não esqueci das máscaras.

Até logo,

F.


... farelos por aí ... 



            Em uma das visitas ao Brasil, José Saramago discorreu no a “tribo da sensibilidade”, em uma das memoráveis edições do projeto "Sempre Um Papo" 
tribo da sensibilidade” diz respeito aos inúmeros profissionais do universo das artes. Todos os envolvidos em shows, espetáculos de dança, teatro: produtores, figurinistas, maquiadores, ou seja, a tribo que faz com que a arte chegue ao seu destino.
À luz de Saramago, venho propor mesmo que de modo tímido a “Tribo da Solidariedade”, nesses tempos de incertezas e nuvens carregadas. 
Para isso, quero apresentar apenas três gestos que garimpei para esta migalha. Dois da minha quebrada e uma nas redes sociais.
Um pequeno grupo de voluntários da região do bairro Nacional, em Contagem, está desenvolvendo um trabalho magnífico. Eles fazem o serviço de entrega especial para idosos, moradores no grupo de risco, pessoas com dificuldade de locomoção. Sempre carregando álcool em gel nos veículos, esses novos mascarados estão dando um show na vida de uma dezena de famílias.
Léa, uma das maiores cozinheiras do bairro, resolveu preparar pratos deliciosos com preços acessíveis aos moradores. Sempre com cardápio variado. 
Na semana passada, experimentei o escondidinho e já quero repetir a dose. “Algumas famílias perguntaram se eu podia preparar alguma coisa à noite nesses dias de... Respondi que se fosse para ajudar, eu estaria à disposição.” Detalhe: ela não precisava fazer isso, mas juntou-se a tribo para somar.
Maria Lúcia Pompein Pessoa, leitora, amiga, parceira da área de Linguagens, tem feito um bem danado para os nossos tempos na rede. Um gesto que nos convida a visitar ou revistar o estado de Minas Gerais. 
Nesse contexto tão conturbado, difícil, Marilu (para os íntimos) vem nos presenteando com imagens magníficas. É o caso, por exemplo, da fotografia abaixo de Jerez Costa:
Flash da cidade de Aiuruoca, que fica no Sul de Minas.  Marilu, diante desse gesto lindo, um pedido: continue postando essas maravilhas do nosso estado. Sua iniciativa transforma o Facebook em um espaço de acolhida, leveza e, claro, vontade de viajar, de re/descobrir...  
            Quem no seu bairro pertenceria a essa “Tribo da Solidariedade”? 


Crédito da primeira imagem: Maria Cecília Masiero
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