Desapareci das redes sociais por um templo, dentro desses séculos da chamada quarentena. Este post será lido por, no máximo, umas três pessoas. Não faço nenhuma questão de sair compartilhando essas linhas dispersivas por aí.

Não foi nada grave.

A FAMÍLIA
Estamos em algum porão do caos, ouvindo diariamente os gritos estridentes da Louca da Esquina.

RETRATOS DA SOCIEDADE
A ignorância, o medo, a hipocrisia e a covardia têm interpretado com êxito seus respectivos papéis nos palcos do Brasil.

VIDA DE PROFESSOR
Nunca trabalhamos e aprendemos tanto em tão pouco tempo. Estamos mergulhados no universo das plataformas, links, tutoriais, aulas síncronas e assíncronas.  O “Teams” do Office 365 sabe bem o que estamos enfrentando.

VIDA DE ESCRITOR
Pela primeira vez na vida, sinto que estou sendo escrito e descrito em uma história. Acredito que o narrador dessa trama toda, às vezes, recolhe e nos acolhe nesses fragmentos, travas e trevas que ainda não temos luvas para sentir.

Crédito: obra que ilustra este post:  Transverso - Caetano Dias/ Galeria Paulo Garzé, Salvador

... farelos por aí ... 



Aprendi com o João Londrina que a tábua de pinho tem poucas funções. Serve para as formas onde entram as vigas, ferragens, ramagens de sustentação.
Lá recebe o concreto e depois não suporta muitas  reutilizações.
Dependendo do jeito que o pedreiro bate ou retira o prego, ela se desmancha. Em pouco tempo, a tábua  apodrece.
Disse pro João Londrina que, mesmo sendo muito frágil, a tábua tem serventia.
Já a poesia, conforme ensinou nosso vô Manoel de Barros, “a poesia não serve pra nada”.
João Londrina ficou assim inquieto e fez outra revelação:
– Ah, a tábua de pinho também serve pra fazer caixão, menino!
Virei pra ele e, de olhos fechados, suspirei. Depois, soprei o desfecho da nossa conversa:
– A poesia serve pra tudo!   

... farelos por aí ... 



O título desta migalha é também do prefácio do livro “Fomos maus alunos”, de Gilberto Dimenstein e Rubem Alves.

Eu transcrevi essa palavra com um lápis amarelo e pensei na fome do “Quarto de Despejo”, que releio.

Passei um verde por cima de cada letra e a combinação verde-amarelo me provocou náusea, ao pensar no desgoverno do País.

Irritado, exalando desconforto à caneta que desequilibrava no branco do papel, passei um vermelho por cima da travessia.

Ao refletir sobre tudo que estamos vivendo, entendi que nossa travessia está 
s
  a 
    n
      g
        r
         a
            n
              d
                o.

... farelos por aí  ... 


Amar? Não quero mais. Já passei da idade. Chega. Um foi e fechou a conta. Só quero namorar. Viajo, dez dias na roça, quando volto, ele vem todo cheiroso me receber: “Ai que saudade, meu moranguinho!” Agora, pro sinhô vê eu tô que nem uma melancia e ele vem com todo esse carinho. Já tá beirando uns doze anos esse romance. Num quero compromisso. Já pedi pra me largar. “Beto, arruma uma moça mais nova, casa, forma uma família. Cê é novo. Ele não desiste, vira pra mim:” É de você que eu gosto, você vale mais que dez, minha rainha”. Agora, o sinhô me dê licença que vou me arrumar, o Beto tá quase chegando.

... farelos por aí ...
Crédito da imagem: https://pt.dhgate.com/discount/painting-canvas-rain-on-sale.html                               

Tô fechada com o patrão. Ele é quem tá com a razão. Esse lance de  estudos aí num tá com nada não. Tô fora.
Cê num viu a filha da dona Nair? Faltou de serviço pra fazer umas provas e ... pá! Perdeu o emprego.
O troço de escola num enche barriga, moço. O patrão tá com a razão. O que uma pessoa da minha idade vai caçar fazer em uma faculdade? O senhor tá louco?
Eu lá vou perdeu tempo, ouvindo essas besteiras de política? O patrão é quem explica tudo direitinho pra gente.
Outro dia ele inté falaou que essa parada de escravidão nunca existiu nessas terras. Verdade! Disse que é conversa fiada.


... farelos por aí ... 






Crédito da imagem: "Relevo", de Frans Krajcberg, obra da Coleção da Fundação Edson Queiroz

É só por uns tempos. No beco ele não vem, não vai me procurar. Não tivemos filhos. 18 anos juntos e veio a bebida e destruiu tudo: a alegria, o prazer de viver a dois, o respeito. Enquanto gritava comigo estava bom. Eu sei... parece mentira. Mas o dia que ele deu uma pancada no rosto com toda força e ódio do mundo, juntei minhas roupas e documentos, fui parar na delegacia, registrei um BO, lá me encaminharam para o hospital, tirei os pontos na semana passada. Agora, vou trocar umas sílabas com a dona do barracão. Quero passar mais uns tempos aqui.

... farelos por aí ... 



Olá, gente! Eu vim falar sobre um livro muito legal que se chama “O mistério da escola”, do autor Martin Widmark.  

O livro conta sobre um mistério que acontece na escola e que os detetives Marco e Maia vão ter que descobrir.

Quando você descobre esse mistério, você se surpreende muito. É muito legal!  

Espero que você leia essa história

Abraços,

A Menina do Baú Vermelho


Há quase sete anos eu não me desconectava... por uns trinta dias. Adianto: só foi possível vencer esse desafio na virada de 19 para 2020.

Aproveitei as “férias escolares” para a quase completa desconexão das redes sociais.

Pedi licença aos grupos de trabalho (WhatsApp), deixando claro que em fevereiro eles poderiam me adicionar novamente.

Na sequência, decidi que postaria o mínimo de fotos e notícias. Só compartilhei posts de suma importância, de acordos feitos no ano anterior.

Desliguei-me um pouco. Não. Desde 2013, eu não me afastava tanto das redes.

Uma experiência incrível.

Fui fazer outras coisas: carregar tijolo, peneirar areia, ajudar a tirar o nível, olhando a marca d’água na parede com muito cuidado, no desequilíbrio e no sem jeito que sempre fui. Acompanho de perto a reforma da minha casa.
Com a reforma (aquela bagunça dos virados), tivemos que sair do lote. “Por conta de umas questões paralelas”, estamos morando em um barracão na quebrada mesmo.

É nesse barracão com apenas três cômodos que escrevo este texto. Lá fora cai uma chuva medonha, dessas que o Sudeste não recebia há muitos e muitos anos. Porém não quero tratar desse assunto, ele já está em todos os noticiários. Só se fala nisso.

Quero lhe contar essa outra experiência:

– Viver num barracão, percorrendo os becos dia e noite, tem provocado em mim algumas arruaças, pensamentos múltiplos, coisas que o mundo vê como conflitos mínimos.

No momento, os microrrelatos do beco, os diálogos estão provocando um quase-curto-circuito na minha escrita. A realidade em farelo, migalha, tudo misturado nos fios de cabelo branco.
No mês de março, dentro daquela sessão “Crônica de Quinta”, pretendo publicar esses recortes absurdos do beco. O que acha da ideia?

Mas antes da publicação dos próximos textos, quero lhe agradecer por acompanhar meu trabalho; seja o de escritor; seja de professor; seja o de produtor cultural.  

Estamos de volta!

... farelos por aí ...

Detalhe: todas as imagens são da minha quebrada! 

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