Encontro com Libério Neves


No dia 05/06/14 tive um inesquecível encontro com o poeta Libério Neves. Para entender um pouco o motivo da minha alegria, já vou avisando que aguardava por esse momento há 05 anos. Fui professor da sua neta. Em abril de 2009, o escritor me enviou de presente um dos seus títulos, “Voa, palavra”. Mas não vou falar das minhas impressões, nesse primeiro momento. Quero lhe (re)apresentar  um pouco desse grande artista.


Libério Neves despertou seu encanto pela língua portuguesa no curso de Direito da UFMG. Nessa época, apaixonou-se pelos recursos expressivos da escrita, pelo respeito com que os mestres atribuíam à língua pátria.
Encanto e respeito presentes em sua obra, em sua pessoa, em seu presente. Ao conversar um pouco com o poeta, temos a sensação de que estamos ouvindo um grande compositor, pela escolha das palavras, pelo ritmo que conduz os fios da meada.
Embora grande parte da sua obra seja voltada para o público infantil, o seu livro de estreia, “Pedra Solidão” (1965), é para adultos. É dessa obra o seu poema mais conhecido, “Pássaro em vertical”. 
Sobre escrever para crianças e adultos, Libério Neves deixa claro o respeito ao potencial dos seus leitores. Em outras palavras, o poeta não separa muito essas denominações. 
Eu escrevo para a criança que sou. 
E para a criança que sempre serei.”

II. Trabalho de revisor de textos
É bom destacar que Libério Neves atua nessa área há mais de quatro décadas. Ele é, sem sombra de dúvida, um profundo conhecedor da gramática normativa. Trata o texto dos outros escritores com enorme respeito e sinceridade. Sabe de quem ele era considerado o revisor de confiança? Bartolomeu Campos de Queirós. Precisa dizer mais?

III. Os poetas do mestre

Libério Neves trocou correspondências com Affonso Ávila, Carlos Drummond de Andrade, Dantas Motta, Henriqueta Lisboa, José Paulo Paes, Oswaldo França Júnior e Silviano Santiago. Um time de escritores para o mundo inteiro aplaudir. Ao se referir aos seus três poetas prediletos, ele declamou os versos abaixo:


“A HORA QUE
O DRUMMOND JOGA
A CASCA DA BANANA
F         O             R         A
O CABRAL CATA
E FAZ UM POEMA
S           O         B            R       E
A CASCA DA BANANA”
Sentados na sala da Editora Lê, eu ouvia encantado a experiência do senhor Libério. A sua “música verbal” é sedutora por demais. Muitas imagens vinham à minha mente. Séculos e séculos da boa literatura naqueles poucos minutos. Fiquei mais menino, mais leve, tocado pelas palavras do mestre. Confesso que, às vezes, eu mexia no sofá para me certificar se tudo aquilo era de verdade.
Sabe as histórias que a gente ouve de um Drummond com Mário, de uma Clarice com um Lúcio Cardoso? Eu estava ali, no meio de um monte de relatos, com o principal representante do Concretismo em Minas, com o poeta que conviveu com Murilo Rubião e Emílio Moura. Ao lado de um artista que acredita “mais em motivação”. Numa entrevista ao jornalista João Pombo Barile, Libério Neves disse:
“Imagina. Um dia você acorda e diz: hoje estou inspirado, vou escrever um poema. Mas sobre o quê, o que vai te motivar a escrever? Inspirado em quê? A inspiração existe, mas motivação a dirige”.  (BARILE, João Pombo. Suplemento Literário de Minas Gerais, 2010, p.7)
         Nessa “linha de poesia mais sintética, mais descarnada, mais despojada da gordura de adjetivos e coisas assim”, Libério Neves me contou que a composição do livro “Voa, palavra” surgiu a partir de vários passeios ao zoológico de Belo Horizonte, das visitas aos pássaros que realizava com uma de suas filhas.
Na hora do café servido pela equipe da Editora, com direito as maravilhas de Minas, descobri o outro lado do poeta. O "danado", com todo respeito, é muito bom de anedotas. Tinha uma história, um causo para cada assunto. Um astral elevadíssimo. Não tinha como não sorrir. O meu sorriso era assim meio abobado, sabe? Talvez porque o encontro estivesse chegando ao fim.
Abraçamos-nos. Um abraço forte, daquele de vovô, bem apertado. Desci a Rua Januária .........leve, carregando dois livros autografados e com uma enorme alegria. Muito obrigado, Clarisse Bruno, Carminha, Alencar, Everson e todos os funcionários da Lê que promoveram esse inesquecível encontro. Libério Neves, muito obrigado pela prosa e muito sucesso nesse rico universo de prosa e verso.

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