C. Raposeiras*
Ele
estava blefando. Felipe tinha certeza que seu oponente não tinha como atacar seu rei.
Era uma tarde de outono, banal. A fraca luz do Sol entrava pela janela e iluminava, de
forma quase clichê, a mesa de xadrez. E nada melhor que mais uma partida de xadrez para vencer o
tédio.
– Pense bem. – disse confiante Felipe. Já havia vencido muitas partidas de xadrez dentro e fora daquela
velha mesa. Agora,
aperfeiçoava suas técnicas
ali, sempre vencendo as partidas.
O oponente permanecia quieto.
Jogada após a outra, não havia um
placar definido. Um peão perdido para Felipe? Uma rainha de seu oponente sai do tabuleiro.
E assim corria aquela agradável tarde. Uma quarta-feira, se Felipe se lembrava. Ou seria quinta?
Bem, já não importa. A disputa se
tornara acirrada. Estranho. Felipe sempre saía vencedor.
Isso antes do horário da recreação
acabar.
Os devaneios de Felipe foram
interrompidos pelo fraco som da voz de seu oponente:
– Cheque-Mate.
– O quê? – espantou-se Felipe
–
Como?
Não houve resposta. O desespero tomou
conta de Felipe, mas não durou muito.
– Seu Felipe, seu tempo livre acabou.
Devemos voltar ao quarto – disse
uma mulher
de cabelos tingidos de castanho, trajando um jaleco branco.
– Sim, mas...eu perdi. Temos
tempo para mais uma partida? – era humilhante assumir a derrota. Mas não houve
resposta.
Como que cedendo a derrota, ele se
levantou, enquanto o oponente, pela primeira vez vencedor, permaneceu sentado.
Enquanto andava em direção ao seu
quarto, duas enfermeiras estavam sussurrando:
– Há quanto tempo a família não vem
visitá-lo?
– Anos. Talvez seja por isso que ele joga
contra si mesmo.
– Provavelmente.
C. Raposeiras é estudante do 1.º Ano do Ensino Médio.
Imagem disponível em: <http://aulasdexadrez.blogspot.com.br/2012/09/o-mate-de-anastasia-xeques-mates-famosos.html>
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