Convivo com muitas
mulheres. A começar, na minha casa são três. As salas de aula estão lotadas de
mulheres. Aliás, tenho a sensação de que
o Brasil é um mundo de mulheres. Só não consigo entender ainda porque há grupos
que insistem em ignorá-las. Meu caro, elas estão dominando geral! Entendeu ou
vou ter que desenhar?
O
convívio com as adolescentes, por exemplo, tem me ensinado bastante a respeito
de uma série de comportamentos. Falo sério. Outro dia mesmo, uma jovem muito
antenada para etiquetas, mandou uma real para mim:
–
Pelo amor de Deus, Alfredo.... nunca trate uma mulher de “querida”.
–
Mas eu faço isso há tanto tempo – tentei justificar.
–
Não serve mais. Soa falso. Cê tá por fora. É coisa de ‘falsiane”.
– Coisa de quê?
– De “falsiane”.
A conversa foi longe. Ela explicou que
o mundo está cheio dessas “falsianes”. – Garotas que na sua frente dizem uma
coisa. São do tipo engraçadinhas, queridinhas. Prestativas, entende? Mas na
primeira oportunidade te ferra por trás.
– Ó, Tiffany, cuidado com o que você
fala, viu?
– tentei limitar o vocabulário da garota.
O grupo de adolescentes que estava
próximo da gente também entrou na conversa. Recordo-me que a Suzzy soltou o
verbo, sem dó e piedade.
– O maior exemplo de Falsiane dessa
escola está sentado à sua frente, Alfredo.
Nessa hora, pensei que a Tiffany fosse
bater na colega, mas a agressão foi apenas verbal.
– Sou mesmo. E daí? E você, sua “pirigueti”?
Do nada, a Suzzy começou a rir e parou
para ouvir as acusações:
– Você não tem vergonha de dar em cima
do meu boy? Fica nessa aí, pagando de santa, mas cai matando nos garotos...
– Gente, calma. Eu só estava
conversando com vocês. Nada de briga. Sem ofensas.
– Relaxa, fessor! É uma brincadeira?
“Amiga que é amiga trata a outra assim.”
(Ela disse outros nomes feios, que não vêm ao caso, como o diminutivo da
profissão mais antiga da humanidade) Sinal de confiança.
–
Ufa! Pensei que vocês fossem sair na porrada.
– Que nada! Somos amigas – disseram,
abraçando-se.
Na hora que as coisas tinham se
acalmado, uma terceira jovem emitiu sua opinião:
– Mas às vezes, a gente tem que usar o
nosso lado “falsiane”.
– Como assim? – quis saber, ora.
– Ah, Alfredo, ninguém é assim 100%
sincero. Então, em determinadas situações, deslizamos.
– Não vou mentir. Só me aproximei da
nova colega, esperando que ela me passasse o convite para a festa de 15 anos.
– E quem nunca fez isso?
Depois daquelas declarações, daquele
falatório todo, fiquei sem norte para os horários seguintes. Adolescentes falam
pouco, não é? Tive que encerrar o assunto, porém antes fui obrigado a ouvir,
mesmo sem entender o motivo, a declaração de um garoto que estava na roda:
– Fessor, o mundo é das Falsianes!
– Será, gente?
Bate o sinal: vai começar a aula...
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